7.27.2008

praia II

Os pais passavam com os filhos de baldes e pás na mão.
As senhoras levavam as cadeiras, os senhores o chapéu de sol.
Depois seguia-se o ritual do creme.
Besuntavam os putos até ficarem com uma camada branca sobre a pele.
- Espalha isso bem!! Não vês que isso assim não protege nada!, gritavam elas
E eles baixavam a cabeça e resmungavam sozinhos.
Depois montavam aquelas tendas, que agora estão muito na moda, e punham o puto a brincar lá em baixo.
O pai entretanto deitava-se. Punha o óleo e ficava a tostar.
Ela, ela pegava numa revista e lia as novidades de uma ponta à outra.
Ficavam durante horas sem dizer uma única palavra. A criança era o único meio de comunicação, e mesmo assim, havia alturas em que a rede faltava.
Ela mergulhava naquela gente rica.
Ele virava-se e olhava a menina do lado.

Havia no entanto os casais de velhotes que vinham com os netos que, raramente passam cá férias.
- É só pelo Verão..., exclamavam eles com tristeza.
Tinha qualquer coisa de melancólico a maneira como eles atravessavam a areia.
Os míudos já mais velhos íam de chapéus de sol na mão.
Os velhotes levavam só as toalhas de baixo do braço e os chapéus na cabeça.
Depois seguia-se o ritual deles:
As toalhas era pousadas na areia muito vagorosamente.
Os miúdos lá se contorciam a tentar colocar o ferro o mais fundo possível.
Depois de tudo arranjado íam andar.
Levavam os avós quase pela mão.
Íam com eles para o mar e ajudávam-nos a tomar banho na água gelada.
Com muita calma eles percorriam a praia de uma ponta à outra,
de uma ponta à outra.
Os míudos trocavam olhares cúmplices entre os dois.
Riam-se quando víam uma menina de olhos bonitos. E quando os avós íam para as toalhas, eles ficavam num dos cantos da praia a fazer ricochetes com pedrinhas sobre a água.


Sunday morning, 27 July 2008

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