Era mesmo isso que o excitava: poder dizer n'importe quoi a coberto do ruído das vozes femininas, impedido de carícias mais íntimas por aquela grade que apenas permitia o beijo incompleto e tentativas desesperadas das mãos.
Rosa Lobato de Faria, As Esquinas do Tempo.
Porque às vezes precisamos muito de um livro novo que nos faça esquecer o anterior. Calhou este passar pelas mãos e permanecer nelas.
São precisos amores assim. Daqueles que vão ficando por ficar. Por já ser tarde para conduzir de volta a casa.
Amores que nos deixem ficar a partilhar a mesma cama por uma noite. Prolongar o desejo, aquecer os lençois.
Quando calha, tenho um amor destes. Por vezes vai-se ficando, suspirando, tentando arrancar da língua aquela dúvida que permanece sempre: seremos sempre só isto? A resposta essa, é inevitável. Seremos sempre só isto, porque o nosso amor não dá para mais. Às vezes apetece dar a mão. Ficar a falar só mais meia-hora. Mas a linha que separa é curta e não estica. Gostava de voltar aos cinco anos e portar-me bem na escola. Não ser má para os rapazes e brincar mais às bonecas. Gostava de andar mais de patins-em-linha com a Mónica. Fazer mais uma visita de estudo às Grutas de Mira d'Aire, levar o lanche na mochila, beber um Um Bongo, comer pão com queijo e fiambre.
Gostava de poder reconstruir as minhas relações. Voltar a trás e ficar calada quando devia. Perguntar o que tanto me faz este nó na garganta. Decidir se haveremos de ser mais alguma coisa do que sexo. E eu...há muito que deixei de ter vergonha.
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